Pequeno poema
Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.
Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.
As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...
Pra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe
* Sebastião da Gama
"Poeta português, natural de Vila Nogueira de Azeitão, Setúbal. Concluiu o curso de Filologia Românica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1947, e ainda nesse ano iniciou a sua actividade de professor, que exerceu em Lisboa, Setúbal e Estremoz. Foi colaborador das revistas Árvore e Távola Redonda.
Sebastião da Gama ficou para a história pela sua dimensão humana, nomeadamente no convívio com os alunos, registado nas páginas do seu famoso Diário (iniciado em 1949). Literariamente, não esteve dependente de qualquer escola, afirmando-se pela sua temática (amor à natureza, ao ser humano) e pela candura muito pessoal que caracterizou os seus textos. Atingido pela tuberculose, que causaria a sua morte precoce, passou a residir no Portinho da Arrábida, com a panorâmica serra da Arrábida a alimentar o culto pela paisagem presente na sua obra. Foi, entretanto, instituído, com o seu nome, um Prémio Nacional de Poesia.
Estreou-se com Serra Mãe, em 1945. Publicou ainda Loas a Nossa Senhora da Arrábida (1946, em colaboração com Miguel Caleiro), Cabo da Boa Esperança (1947) e Campo Aberto (1951). Após a sua morte, foram editados Pelo Sonho é que Vamos (1953), Diário (1958), Itinerário Paralelo (1967), O Segredo é Amar (1969) e Cartas "
de "As tormentas "
“Gostava que os mocinhos não ligassem importância de
valoração quantitativa às notas; que as tornassem como símbolos, não como
prémios: que para eles a nota não fosse um lugar sentado no eléctrico. Que
dissessem: «Que me importa ter tido dez valores, se eu valho dezoito?» Ou então
«de que me serve ter tido dezoito, se eu valho dez?» (...)
Mas é evidente que isto
há-de custar, se é que não é quase impossível. Pois se nós os grandes, os que
temos estas teorias...
Cala-te, boca!
Isto vem a ser da mesma
natureza dos castigos - quero dizer, por mais justas palavras, do bom ou mau
comportamento na escola. Ontem (ontem, saibam todos, foi o dia 11 de Maio) duas
meninas vieram chamar o contínuo para que repreendesse um colega que lhes dissera
palavras menos decentes; eu acompanhei-as, não fosse o empregado ser pouco
suave e estragar completamente o que só estaria meio estragado. Fui eu quem
falou ao rapazinho; e fiz-lhe ver que, embora o seu caso pudesse ser comunicado
ao Senhor Director (pobres Senhores Directores, de quem os contínuos fazem um
papão!) eu não queria que ele tornasse a fazer semelhante coisa por medo ao
castigo: mas por honestidade, por aprumo moral, pela compreensão perfeita do
erro que cometera. Disse-lhe mais coisas e apertei-lhe a mão no fim. Ou sou
muito ingénuo ou o rapazinho está curado.
Vem esta lengalenga a
propósito de que eu tive que explicar aos meus homens o motivo da descida de
algumas classificações. «Tu, Aragão, baixaste para 17, mas para mim continuas a
ter 18, e é isto que interessa.»
A lição foi quase toda
deles: leram os seus trabalhos (a coisa que mais apetece nesta idade) e fizeram
as suas observações às faltas de correcção que ocorriam. Tenho por costume
fazer assim, quando eles espontaneamente não reconhecem o erro. Leio por
inteiro a frase onde «há gato» e revelo: «Aqui há gato, aqui há qualquer coisa
que eu não acho bem. Qual é a coisa qual é ela?» - e os rapazes descobrem, há
quase sempre um, pelo menos um, que descobre. Que o professor seja humilde
também aqui.”
Foto no museu Sebastião da Gama em Azeitão
. Conheci este museu ontem e adorei lá estar, porque me senti mais próxima de um poeta que sempre admirei.
Um pequeno grande espaço, porque contem palavras e fotos de uma vida curta mas rica em sabedoria e sensibilidade.
"O segredo da educação é o amor ", esta era uma frase que Sebastião não se cansava e dizer .
Quem dera que muitos o ouvissem!...
Serra da Arrábida o refúgio do poeta... a sua SERRA tão amada.
(1994).
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