quinta-feira, 19 de março de 2015

OLÁ!


Já três semanas passaram, em que na biblioteca a exposição de teatro levou alguns alunos e professores a verem e ouvirem a história do clube Tecto na escola. 
 Imaginem que existem alunos na escola, que nem sabiam da existência do clube! Bom... ainda bem, que marcámos este encontro especial para falarmos um pouco e dar a conhecer o que temos feito. E olhem, que não é pouco.  Em 12 anos 24 peças foram apresentadas. Tivemos mais uma semana com visitas guiadas, onde quem foi, ouviu  os alunos inscritos este ano, dizerem poemas de vários poetas portugueses. E todos os que tiveram  a coragem de o fazer, deram muito boa conta do recado. 
A nossa Joana Dias na pele de Arlequim, esteve muito bem., dizendo:

                                                      UM TRAÇO 


Um traço
rasga
o espaço
na planície
branca
do papel.

Assim
se dirá
                                                     que da curva
do carvão
nasceu
o pão
o riso
o mel.
                            José Fanha
                    “Cartas de Marear” 

 


 
                                                                  Alguns dos adereços das peças do Pinóquio 

"Pelo sonho é que vamos" de Sebastião da Gama 
 na voz da nossa Mariana Almeida  













 memórias fotográficas do Gigante Egoísta 


 A história do clube de teatro 
Renata disse "As palavras"  
                                                                                        de Sophia de Mello Breyner 











o nosso Pedro Martins foi muito seguro 

no poema de José Fanha "canção do soldado"


Canção do soldado
Não quero ir para a guerra                                                                                                 
sei lá onde isso é
sou filho de outra gente
quero ficar aqui
morrer onde nasci
comer a sopa quente.

A guerra não conhece
a curva do meu gesto
a cor do meu olhar.
Se existo para ser asa
a morte não é casa
que me posa abrigar.

Para que serve a guerra
e a terra que deus fez
e aquele céu de veludo?
Para quê esta canção
se apenas um botão
pode acabar com tudo?


Não hei-de ser soldado.
Meus pais não me fizeram
tão jovem moribundo.
Quero morrer a rir
beijá-los e pedir
que inventem outro mundo.
                                                         José Fanha
                                                         “Cartas de Marear” 
 




 Asas
 Nós nascemos para ter asas, meus amigos.
 Não se esqueçam de escrever por dentro do peito: nós nascemos para ter asas.
 No entanto em épocas remotas, vieram com dedos peados de ferrugem para gastar as nossa asas como se gastam tostões.
 Cortaram-nos as asas para que fôssemos apenas operários obedientes, estudantes atenciosos, leitores ingénuos de notícias sensacionais, gente pouca, pouca e seca.
 Apesar disso, sábios, estudiosos do arco íris e de coisas transparentes, afirmam que as asas dos homens crescem mesmo depois de cortadas, e, novamente cortadas, de novo voltam a ser.
 Aceitemos esta hipótese, apesar de não termos dela qualquer confirmação prática.
 Por hoje é tudo. Abram as janelas. Podem sair.
                                                                                                                          José Fanha
                                                                                                                 “Cartas de Marear” 
 
                                                                                                                                                                                                                                     



Mariana Nunes foi vibrante a dizer"Asas" 













A Lara e a Taísa deslumbraram quem as ouviu dizer 
"Quando for Grande "  e      "Ser poeta"          "Amar-te perdidamente" de Forbela Espança


Quando for Grande            
Quando for grande
quero uma mão
que tenha a forma
do coração.

Quando for grande
quero uma ponte
que chegue à linha
do horizonte.


Quando for grande
quero um olhar
que chegue ao fundo
de céu e mar.

                          José Fanha
                    “Cartas de Marear” 

 Meus queridos alunos estou sempre convosco, mesmo quando não posso estar  presente!...



Queridos alunos

quarta-feira, 18 de março de 2015

No Tempo Dividido

Em memória da minha mãe


O sol e o dia brilham mas sem ti
Talvez não sejam mais o sol e o dia.
O sol e o dia agora
Estão lá onde o teu sorriso mora
E não aqui.

Como quem colhe flores tu serena
Vais colhendo sem chorar a nossa pena
Olhas por nós sem mágoa nem saudade
E o céu azul, a luz, as Primaveras
Habitam na perfeita claridade
Em que nos esperas.


Sophia de Mello Breyner Andresen "No tempo Dividido"


Para Sempre

Por que Deus permite 
que as mães vão-se embora? 
Mãe não tem limite, 
é tempo sem hora, 
luz que não apaga 
quando sopra o vento 
e chuva desaba, 
veludo escondido 
na pele enrugada, 
água pura, ar puro, 
puro pensamento. 
Morrer acontece 
com o que é breve e passa 
sem deixar vestígio. 
Mãe, na sua graça, 
é eternidade. 
Por que Deus se lembra 
— mistério profundo — 
de tirá-la um dia? 
Fosse eu Rei do Mundo, 
baixava uma lei: 
Mãe não morre nunca, 
mãe ficará sempre 
junto de seu filho 
e ele, velho embora, 
será pequenino 
feito grão de milho. 

Carlos Drummond de Andrade, in 'Lição de Coisas'