terça-feira, 31 de julho de 2012

BELEZA









À Beleza


 Não tens corpo, nem pátria, nem família, 
 Não te curvas ao jugo dos tiranos. 
 Não tens preço na terra dos humanos, 
 Nem o tempo te rói. 
 És a essência dos anos,
 O que vem e o que foi.

 És a carne dos deuses, 
 O sorriso das pedras, 
 E a candura do instinto. 
 És aquele alimento 
 De quem, farto de pão, anda faminto.


 És a graça da vida em toda a parte, 
 Ou em arte,
 Ou em simples verdade. 
 És o cravo vermelho, 
 Ou a moça no espelho, 
 Que depois de te ver se persuade.


 És um verso perfeito
 Que traz consigo a força do que diz.
 És o jeito
 Que tem, antes de mestre, o aprendiz.


 És a beleza, enfim.
 És o teu nome.
 Um milagre, uma luz, uma harmonia,
 Uma linha sem traço... 
 Mas sem corpo, sem pátria e sem família, 
 Tudo repousa em paz no teu regaço.


Miguel Torga "Odes"
 Miguel Torga, in 'Odes'

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