O dia de receber a pensão
O que eu mais gosto é de me lembrar do dia
em que a minha avó ia receber a pensão.
Levava-me
sempre a comprar um soldadinho e a comer um bolo na Mexicana.
Bem… A Mexicana não era mesmo mexicana. Era uma
pastelaria na Praça de Londres.
E a Praça não era de Londres nem era preciso
ir a Londres para lá chegar. A Praça de Londres fica em Lisboa. Ali ao pé da
Avenida de Paris. Que também não tinha nada a ver com Paris, mas era onde a
minha avó ia receber a pensão.
Não sei
porque é que a pensão se chamava pensão. Para a receber não era preciso ir a
nenhuma Pensão nem a nenhum Hotel. Íamos à Caixa. E a Caixa não era nenhuma
caixa de bolachas nem de lápis de cor. Era um Banco. E o Banco também não era
nenhum banco de cozinha nem de jardim. Era uma casa grande onde estava guardado
o dinheiro.
E só a
minha avó é que era mesmo a minha avó. A pessoa mais bonita e mais doce que eu
conheci na minha vida.
José Fanha “ Diário inventado de um menino já crescido”
Este é um texto que além de ser um prazer de leitura, pode ser um excelente exercício de reflexão, para quem procura perceber, como por vezes o que dizemos , pode facilmente ser entendido de maneira completamente diferente. Solta-se a frase comum: " A língua portuguesa é muito traiçoeira"... Pois é, mas não só. O meu conhecimento das coisas é diferente do dos outros, logo o meu "ENTENDER" é também necessariamente diferente e aí temos a tal diferença que nos pode colocar em situações difíceis. Nós professores, temos de ter um cuidado extremo na maneira como nos expressamos nas aulas com os nossos alunos, para não fazermos do ENTENDER aquela COISA DIFÍCIL QUE NINGUÉM ENTENDE.
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