Este texto retirado do blog do José Fanha, um artista que admiro e que me acompanha com os seus textos e poemas no clube de teatro, que através das palavras de Robert Lepage, me ajudou a explicar aos meus alunos a forma como terá nascido o teatro.
A Mónica em mademoiselle Fanfarronade da peça "O Principe nabo"
"Orfeu e Euridice" no Teatro da Trindade
"Existem várias hipóteses sobre as origens do
teatro, mas aquela que me interpela mais tem a forma de uma fábula:
Uma noite, na alvorada dos
tempos, um grupo de homens juntou-se numa pedreira para se aquecer em volta de
uma fogueira e para contar histórias. De repente, um deles teve a ideia de se
levantar e usar a sua sombra para ilustrar o seu conto.
Usando a luz das chamas ele fez
aparecer nas paredes da pedreira, personagens maiores que o natural.
Deslumbrados, os outros reconheceram por sua vez o forte e o débil, o opressor e
o oprimido, o deus e o mortal. Actualmente, a luz dos projectores substituiu a
original fogueira ao ar livre, e a maquinaria de cena, as paredes da pedreira.
E com todo o respeito por certos
puristas, esta fábula lembra-nos que a tecnologia está presente desde os
primórdios do teatro e que não deve ser entendida como uma ameaça, mas sim como
um elemento unificador.
A sobrevivência da arte teatral
depende da sua capacidade de se reinventar abraçando novos instrumentos e novas
linguagens. Senão, como poderá o teatro continuar a ser testemunha das grandes
questões da sua época e promover a compreensão entre povos sem ter, em si mesmo,
um espírito de abertura? Como poderá ele orgulhar-se de nos oferecer soluções
para os problemas da intolerância, da exclusão e do racismo se, na sua própria
prática, resistiu a toda a fusão e integração?
Para representar o mundo em toda
a sua complexidade, o artista deve propor novas formas e ideias, e confiar na
inteligência do espectador, que é capaz de distinguir a silhueta da humanidade
neste perpétuo jogo de luz e sombra.
É verdade que a brincar
demasiado com o fogo, o homem corre o risco de se queimar, mas ganha igualmente
a possibilidade de deslumbrar e iluminar."
Robert Lepage
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