segunda-feira, 30 de novembro de 2015

HORIZONTE




Horizonte 

Ó mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e  a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
Splendia sobre as naus da iniciação

Linha severa da longínqua costa-
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto,  abre-se a terra em sons e cores;
E, no desembarcar, há aves, flores, 
Onde era só, de longe a abstracta linha.

O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esprança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte  -
Os beijos merecidos da Verdade.

                                                      Fernando Pessoa 


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